Ele estava atrás do portão e via a vida lá fora. Era uma criança olhando entre as grades. Tão perto ao mesmo tão longe. Com suas pequenas mãos segurava nas barras e com o rosto prensado entre elas observava as crianças se divertindo lá fora. Elas estavam felizes, ele não. Do lado de fora a vida sonhada, mas dentro, a realidade sofrida e vivida. Todos querem uma bela vida, mas muitos recebem somente o resto dela.
Aos três anos lhe entregaram a uma Mãe Crecheira. Sua mãe, apesar de trabalhadora, não tinha condições de criar ele e suas irmãs, então foi enviado para a casa de uma senhora cuidadora. Para os de fora, essa senhora era bondosa e atenciosa, mas quando os portões se fechavam uma pessoa má se revelava. Ela colocava ratos e sapos em sua cama, era forçado a fazer o que não queria e surras lhe eram constantes. O mal que recebeu lhe fez cultivar o ódio, tinha somente cinco anos, mas já era o suficiente para receber a semente maligna.
Aos nove anos já tinha gosto de sangue na boca, de tanta raiva que passou dizia a si mesmo: “Vou matar essa mulher!”, mas antes que isso acontecesse, sua vó o resgatou daquele lugar. Voltando para a sua casa encontrou sua mãe que incansavelmente trabalhava e pouco tempo tinha pra ele. O dinheiro da família era insuficiente, sua avó recebia uma cesta básica que ajudava muito. Seu café da manhã era com farinha e água, era somente o que tinha. Ele nunca teve tempo para brincar, a sua realidade era muito difícil de viver.
Sempre almejava a vida lá fora, mas atrás das grades da sua realidade, era outro estilo de vida que vivia, queria ser bom e ajustado, mas a rebeldia lhe batia a porta. O ódio gerava mais ódio, já não capaz de respeitar nada e ninguém.
Na escola queria ter amigos, mas não tinha muitas opções, então entendeu que para fazer parte do grupinho era necessário ir para o quartinho escuro das drogas, trancar o cadeado e jogar a chave fora. E foi isso que ele fez, para ter amizades teve que se tornar um viciado também. Mas dentro da prisão do vício encontrou o prazer, parecia que o mundo da raiva e covardia que vivia desapareceu, o seu vício anestesiava os seus problemas. Para sair da prisão das dores foi necessário ir para uma nova prisão, essa seria a sua casa por mais de duas décadas. Inicialmente parecia uma mina de ouro, mas as contas do seu vício ainda iam chegar.
Vendeu picolé e jornal no meio da rua, morou e trabalho em várias obras de construção, mas o dinheiro que entrava em um bolso logo saia para manter o vício que o consumia. Em um supermercado começou como empacotador e chegou a ser repositor, mas teve que largar tudo para se drogar. Chegou a jogar nos Juniores do Gama, mas teve que abandonar, por detrás dos portões do vício viu os seus companheiros de time irem rumo ao sucesso, e ele, rumo ao fracasso novamente. Uma hora queria ser trabalhador, logo em seguida, vagabundo. Era homem acostumado a labuta, mas em outros momentos, somente um ladrão. Sua mente era confusa, não respeitava ninguém e nem a si mesmo. Os momentos ruins sobressaiam aos momentos bons, queria edificar algo mais não conseguia, o mal que fazia o levava pro próximo mal que iria cometer. Certo dia um grupo de policiais jogaram a cola de sapateiro que ele cheirava em sua cabeça, aquilo foi a gota d’água para ele, foi o bastante para florescer o ódio que estava guardado, não culpava a si mesmo, mas aos outros, estava cego. A cada piorava mais e o vício reinava absoluto.
Sonhava em ser pai, mas a sua prisão mental não deixava vivenciar essa vida. Era somente um sonho, a sua realidade era outra. Tinha dificuldades de firmar relacionamentos e se acostumou a vê-las saindo pelas portas carregando as suas malas. Nenhuma delas o suportou. Certa vez chegou a vender todos os moveis da casa por oitocentos reais para dar uma cheirada. Que mulher aguentaria viver assim? O sonho de um casamento feliz ficava fora dos portões da sua vida.
Procurou igrejas, pastores, espiritismo, candomblé, psicólogos, psiquiatras e clinicas de tratamento. O portão tinha cadeado e estava trancado. Aceitou mais de trinta vezes Jesus, mas aquilo era somente da boca pra fora, em sua mente as drogas reinavam como sempre. Tentou se matar por três vezes, mas nem assim os portões se abriam. No meio da mata, com seis latas de merla, um pacote de cigarros, uma garrafa de uísque e uma canela seca (arma de fogo) começou a chorar. Colocou a arma no ouvido e apertou o gatinho, três vezes falhou, nem para a morte os portões se abriam.
Todo mundo queria ajuda-lo, mas somente ele poderia decidir isso.
Todo mundo queria ajuda-lo, mas somente ele poderia decidir isso. É uma decisão pessoal e intransferível. Depois de duas décadas enfim ela aconteceu. A decisão nasceu no interior dele, chegou o dia do basta. Se internou, assistiu muitas palestras e muitos pastores foram lhe socorrer. Era uma fase de transição, dolorosa transição. Olhou para o cadeado que fechava os portões, pegou a chave que sempre esteve em suas mãos e decidiu enfim viver a vida lá fora. A vida que era merecida viver.
Dessa vida começou a pegar gosto, se reeducou. Aprendeu a falar sério, a chorar, a ter e ser amigo. Aprendeu a ser irmão, filho, marido e pai. Aprendeu a ser uma pessoa melhor. Um dia após o outro, agora sem tropeços. Trabalhando os seus sentimentos conseguia viver uma vida simples mais proveitosa. Sua primeira lição foi aprender a se amar, e a segunda, a perdoar. Teve que tirar os pesos da vida e deixá-los para trás, a nova vida lhe era agora mais atraente, o passado ficou no passado. O tratamento foi eficaz, ele tinha decidido aceita-lo.
Na comunidade terapêutica conheceu uma pessoa muito especial, uma mulher que lhe ajudou a viver a vida sonhada, a se realizar como marido e pai. Passou dificuldades como qualquer pessoa poderia passar, mas longe das grades o brilhante sol da manhã já iluminava a sua face e mostrava que as prisões não eram mais parte da sua vida. Ele se tornou livre. Enfim pode brincar lá fora.
Hélio Adicto se libertou das drogas, se casou e hoje é o responsável para instituição DÊ VALOR A VIDA.
DÊ VALOR A VIDA faz esse difícil trabalho com dependentes químicos, através dos seus profissionais, centenas de homens puderam regressar ao conviveu com seus familiares. Esse trabalho foi fundado por Hélio Adicto, ex-dependente químico que faleceu esse ano. Hoje é tocado pela viúva dele e por Reginaldo, outro ex-dependente químico que foi reabilitado pelo instituto.
Cada um contribui com o que pode, alguns que chegam lá não tem a mínima condição de serem tratados. Então entra o nosso apoio, para levar alimentos e doações financeiras para que os trabalhos continuem a serem realizados.
Caso queira contribuir, entre em contato pelo WhatsApp: 61 984088536
Tipos de ajudas necessárias: ALIMENTOS EM GERAL, CARNES, DOAÇÕES FINANCEIRAS PARA CONTAS DE LUZ E ÁGUA
Conta DÊ VALOR A VIDA:
Banco: CAIXA
Agência: 4463 OP: 13
Conta: 2480-6
Razão social: Catia Sirlene S Rodrigues
CPF: 647.446.514-9
DÊ VALOR A VIDA
Comunidade Terapêutica para Dependentes Químicos.
Histórias reais de vidas destruídas pelas drogas e reconstruídas pelo amor.
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