Sentado no meio fio observava o grupo tocando do outro lado da rua. Com um balde entre as pernas, seus olhos admiravam os movimentos, e tentava imita-los. Com o ouvido escutava e com as mãos replicava. Estava sozinho. O balde era o seu tambor, sem entender nascia ali uma carreira.
Sentado no meio fio, imitando os tocadores, a música veio como uma válvula de escape diante do sofrimento que viveu nos últimos meses. Sua mãe acabara de morrer, e ele acompanhou o seu sofrimento por muitos meses, teve que abandonar os estudos para cuidar dela, o câncer ósseo foi implacável. Durante as noites, ouvia silenciosamente os gemidos de agonia da sua mãe e sua oração constante era: “Passa pra mim essa dor”. Se a vida tinha lhe roubado o chão, a música chegava para lhe dar esperança.
Sentado no meio fio batucou no paralelepípedo até sair música dele, suas mãos encheram de calos. Do balde e da pedra fluiu som e para quem não tem recursos… os instrumentos são do cotidiano. O jovem cresceu e encontrou mãos amigas para lhe ajudar. Logo mais tarde ingressou em uma banda, e outra, e outras mais. Tocou nos Marotos e muitas outras. Tocou em todo o Brasil. Atualmente é o percussionista do Louva Deus e continua a musicalizar.
Nascendo um Projeto Social
No começo desse ano, ele, o Sassá (Salyester), me ligou dizendo: “Tem um pessoa vendendo uns equipamentos, pensei sobre aquele curso de percussão que o senhor tinha falado, daria pra começar”. Respondi: “Se eu comprar você vai ensinar?”, e ele disse: “Compra, que eu vou ensinar”. Então comprei.
O curso de música era um sonho antigo. Tanto para nós, quanto para ele. Esse ano foi o tempo de concretizar.
Ele conhece bem a realidade desse lugar, sabe o que é sofrimento e como a música é transformadora. Funcionou com ele, pode funcionar com mais pessoas. Nós só podemos dar aquilo que temos, e se temos um conhecimento ele pode ser ofertado GENEROSAMENTE aos outros.
Hoje, em nossa aula inaugural, um grupo de adolescentes se juntou para aprender percussão com o Sassá. Atentamente observavam a ele explicando sobre os tipos de instrumento e como se poderia compreender cada um. Com toda autoridade disse: “Podemos tirar som de qualquer coisa, até batucando nesse portão podemos fazer som”. Com certeza ele sabia muito bem o que dizia. Não vamos batucar em baldes e nem em pedras, mas se fosse necessário ele poderia ensinar.
Nós só podemos dar aquilo que temos, e se temos um conhecimento ele pode ser ofertado GENEROSAMENTE aos outros.
A generosidade é a capacidade de sair do “mundo pago” e ofertar algo a quem necessita. Alguns doam alimentos; outros, equipamentos; mas alguns podem doar o seu próprio conhecimento e multiplicar o que tem. Se é percussão o seu oficio, ensine; se é costura, ensine; se é informática, ensine; aqui todo conhecimento é válido e útil para alguém. Durante a aula um dos jovens perguntou: “E guitarra?”, respondi que logo teremos alguém pra ensinar também. Temos um local e acredito que novas conexões irão surgir para preencher os horários livres.
Faça sua doação:
Nossa expectativa é conseguir todos os instrumentos de percussão e assim trazer uma válvula de escape para muitos adolescentes. Assim foi com o Sassá, o mesmo acontecerá com milhares deles. Quem sabe no final do ano teremos um grupo de percussão para semear em outros lugares.
Uma Nova Parceria
Antes de baixarmos os portões o telefone tocou, era o Marquinhos, ele queria conhecer o trabalho. Deus nos proporcionou uma grata surpresa. Ele é tocador de samba, e tem um trabalho voltado para ajudar pessoas, queria conhecer o projeto social nosso para cooperar. “O samba junta as pessoas”, ele disse. Com certeza que sim, pois estava nos unindo agora. E completou: “Tem um que toca cavaquinho e queria ajudar”. Com os olhos marejados, no falou sobre tudo que tinha no seu coração e como gostaria de desenvolver um projeto social, até ensinar sobre gráfica queria fazer (já sei quem vou lhe apresentar). Mal sabia que estava falando com a pessoa certa. Se ele tem um sonho social, meu prazer é trazer a realidade. Não sou músico, meu instrumento é outro, é a generosidade.
Faça sua doação:
Fomos conhecer a ação que estava realizando na Ceilândia, lá conhecemos uma turma apaixonada por pessoas, mas essa é outra história.
Precisamos…
Precisamos de doações de equipamentos de percussão: 10 pandeiros, 10 tantans, 10 surdos, 10 bumbos e outros mais. Todos são bem-vindos. Você pode doar o equipamento ou o valor para a compra.
Moisés Nogueira de Faria
Líder da Corrente do Bem Brasília
Instagram: @moisesnogueiraoficial