Ele passou aqui na frente no final da tarde. Estava bem diferente do que costumeiramente vemos no final de semana. Estava sorridente e brincalhão, gente boa como só ele, pois no domingo só o vemos arrastado pelos “amigos”. Juro que faz meses que sempre o vejo embriagado. Já desisti de tentar conversar.
Mas hoje não está assim, mas logo ficou desembaraçado de lembra-lo do seu perfil de final de semana. Caiu a ficha que o dinheiro ganho hoje seria pulverizado nas cachaças que os espera daqui a alguns dias. Se não trabalhasse e não bebesse teria o mesmo resultado financeiro de hoje, pois, todo ganho vai para a maldita cachaça.
E aos poucos, seu semblante foi caindo ao lembrar que tudo que ele produz ele bebe. Que não tem nada porque é viciado.
Ele é um cara esperto e articulado, que de tanto eu incentivar começou a fazer o curso de informática, pois sendo novo poderia sonhar em uma outra profissão além de ser pedreiro. Com o pouco que estudou conseguiu assimilar muita coisa e, a longo prazo, quem sabe uma nova carreira. Mas seu inimigo do final de semana não está deixando-o mudar de vida. Ele poderia ter feito um pé de meia, mas a bebida consumiu tudo, até os seus sonhos.
Falei que poderia sumir na sexta e voltar bem tarde, assim ninguém o chamaria pra beber. No sábado, sumiria com o celular desligado, para a sua turma não o encontrar, só voltando a noite. E assim fazer no domingo. Sem mudança de hábito não há mudança real. Sem ser radical não existe transformação.
Aqui, muitos lares são assim, parece que todo final de ano é um regresso para a linha de largada. Em cada esquina, ela está acessível, para destruir uma família e seus sonhos juntos.
Grande parte do nosso trabalho é educação pra vida. É dar visão pra as pessoas. As cestas básicas resolve o hoje, mas o amanhã, é com educação, trabalho e visão. A Corrente Brasília visa com suas atividades de acolhimento, suprimento e capacitação, desenvolver o ser humano para ser um vencedor na vida e se livrar dessas armadinhas que destroem a vida de tantas pessoas.