De vez em quando encontro pessoas que dizem para mim: “Conheço alguém que está passando necessidades vou falar para te procurar”, eu gentilmente respondo: “Olha, estamos com mais famílias necessitadas do que doadores, mas faz o seguinte, ajude-a então. Veja o que ela precisa e compre.”. Surpresas, elas nunca mais tocam no assunto.
Certo dia, recebi uma ligação sobre a necessidade de internação de um dependente químico. Fiquei aflito, era no meio do expediente, mas eu sentia a necessidade de ajudar. De imediato me prontifiquei e disse: “Onde eu pego vocês?”, a pessoa respondeu: “Eu não vou, tenho que trabalhar!”. Mas como? No entendimento dela, era eu que deveria pegar esse dependente químico em situação de rua e leva-lo para o tratamento, mas ela não tinha nada a ver com isso. Expliquei que deveríamos fazer juntos, disfarçadamente ela disse que depois ligaria, logicamente não ligou.
Para alguns, o “ajudar ao próximo” é realizado por pessoas com tempo disponível e com dinheiro sobrando, por isso, imaginam eles, alguns fazem e outros não. Alguns dizem pra mim “eu trabalho muito e não tenho tempo para isso”, nem imaginam que eu tenho família, sou escritor, tenho duas empresas e sou pastor titular. Em nosso grupo existem pessoas que matam aulas de cursinho, que negociam folgas, que trocam expediente, que desmarcam compromissos, que chegam após plantão, tudo para ir ajudar pessoas. Todos têm empregos, famílias e contas para pagar, mas decidiram fazer o bem. Ninguém tem dinheiro sobrando, ao contrário, muitos seguem apertado o dia a dia, mas aprenderam a compartilhar do que possuem. Comumente vemos “vaquinhas” no final da nossa reunião no Sol Nascente para pagar um gás ou ajudar o tratamento de alguém, juntamos os trocados do bolso e dá para fazer algo. Podemos abrir mão de nossos confortos para sermos generosos, aprender a compartilhar daquilo que temos e não das sobras somente. Existem várias pessoas desempregadas que mensalmente compram sua cesta de alimento para contribuir. Alguns dos nossos mais fiéis doadores são pessoas humildes.
Lembro-me da fala da Ana Paula Valadão que compra a liberdade de crianças na Índia e deixa de comprar brinquedos novos para os seus filhos. Com certeza seus filhos estão aprendendo uma importante lição sobre a vida. E nós também. Aprendemos a trocar o conforto pela generosidade, pois estamos fazendo falta para o mundo. A nossa omissão custa caro para muitas pessoas.
Existem pessoas realizando festinhas de aniversário para seus belos cachorrinhos com convidas caninos e decoração harmoniosa enquanto muitas crianças em Brasília que nunca tiveram um mínimo bolo para cantar uns parabéns. Algumas pessoas são capazes de comprar chocolates finos caríssimos mas não contribuem com uma cesta de alimentos com preço inferior. Alguns programam viagens pelo Brasil e mundo, mas nunca dedicaram um dia para conhecer a realidade dos bairros carentes de sua cidade.
Não é dever de alguns somente, é de todos. Um dia estaremos frente a frente com o Altíssimo e não serão aceitas desculpas, pois hoje o livre arbítrio nos permite não sermos questionados fora do tempo, mas quando esse chegar teremos muitas explicações para dar.